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Caxixo: O Encanto da Palavra que Dança
Era uma manhã tranquila, e eu andava pelas ruas da cidadezinha ainda adormecida, quando ouvi pela primeira vez a palavra: "caxixo". Ela me soou quase como um sussurro, leve, um tanto travesso, cheio de mistério. Quem a pronunciava era um senhor de chapéu de palha, que, com seu jeito simples, parecia compartilhar um segredo com o vento. A palavra escapou da sua boca em um sorriso: “Não passa de caxixo!”. E ele riu, como quem sabe mais do que diz.

"Caxixo?" Pensei eu. Aquela palavra guardava uma musicalidade que me intrigava. Algo entre o riso e o mistério, uma dança de sílabas tão brasileira quanto a cadência do samba. Fiquei com ela na cabeça, rolando o som entre os dentes, como se provasse algo raro. Lembrei-me de quando era criança, e a vovó usava "caxixo" para se referir a conversas à toa, fofocas de janela a janela, falas meio soltas que escorriam pelas calçadas e flutuavam pelo ar.

Fui investigar o tal “caxixo” pela cidade. Em cada esquina, a palavra revelava um novo significado. Para uns, era qualquer coisa dita sem importância, uma bobagem. Para outros, “caxixo” tinha até algo de mágico, como as conversas que se têm com quem está distante, seja por saudade ou por pura vontade de sonhar alto.

E lá estava eu, colecionando significados. Logo percebi que “caxixo” não era um simples termo; era quase uma filosofia, um modo de existir. Era o que se dizia para desanuviar o peso do dia, o que se trocava entre amigos sem se preocupar se aquilo era verdade ou pura invenção. Não importava. Importava era o prazer do dito, o sabor da palavra solta no ar, que fazia rir e enchia o peito de leveza.

Naquela manhã, compreendi que “caxixo” é como um poema solto, um descompromisso, a graça de falar por falar. É o que dá cor à vida sem a necessidade de propósito, o enfeite despretensioso que torna o cotidiano mais leve. E, ao final do dia, eu já carregava comigo um pouco daquele caxixo, sentindo-me mais leve, como se as palavras também tivessem o poder de nos fazer flutuar.

E quem sabe, amanhã, quando alguém se aproximar com um problema sério demais, eu apenas sorria, diga um "não passa de caxixo" e siga adiante, dançando como as palavras ao vento.

Helena Bernardes
07 nov 2024
Vovó Onça Contadora de Histórias
Enviado por Vovó Onça Contadora de Histórias em 08/11/2024
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